22 de jun. de 2015

Hermeto Pascoal - Forrozão dos Oito Baixos

Hoje é aniversário de 79 anos de Hermeto Pascoal.
Só isso já seria motivo para um dia de alegria e muita música. Hermeto,
mais do que um músico, sempre encarnou o próprio espírito da música,
tal a sua musicalidade. A todos nós, músicos e admiradores daquilo que
chamamos por música, é uma alegria tê-lo por perto, tocando, compondo
novas e intrincadas melodias, improvisando em pianos e bacias. Então, em
homenagem ao aniversário de Hermeto, um forró no fole de oito baixos,

durante seu aniversário de 75 anos, lá eu estava no meio da festa, quatro anos atrás! Aniversário de 75 anos de Hermeto Pascoal. 

A sanfona utilizada por Hermeto pertenceu a seu pai, e antes de tocar a
música "Forrozão dos Oito Baixos", Hermeto lembrou de uma passagem 
engraçada de seu pai num vôo de avião para a Argentina, no final da 
decada de 1970.


"Papai morava no bairro Jabour e um dia nós fomos tocar na Argentina e o papai
com essa mesma sanfoninha. Chegou na hora, eu não lembro qual era a
companhia de aviação, nós sentamos, aí a aeromoça chegou assim bem
delicadamente e disse: "Moço, por gentiliza, o senhor tem que me dar
esse instrumento para eu levar lá para cima, porque o senhor não pode
viajar com ele no colo". Meu pai falou pra ela na maior simplicidade do
mundo: " Minha filha, esse instrumento aqui, pra você levar lá pra cima,
você tem que me levar também." Aí, ficou aquele empate dentro do avião,
o avião já se preparando para decolar, aí eu falei pro papai: "Papai,
deixe ela levar, que ela toma cuidado". Aí papai disse assim: "Meu
filho, pra eu largar esse oito baixos aqui, eu tenho que ir junto, pra
onde ele for eu tenho que ir junto". Aí chamaram a aeromoça novamente, e
ela deixou ele viajar com o oito baixos. E ele viajou com o oito baixos
agarrado assim".
mais informações: sanfonade8baixos.blogspot.com


17 de jun. de 2015

Homenagem ao Centenário de Gerson Filho (1915 – 2015) – Léo Rugero


Homenagem ao Centenário de Gerson Filho (1915 – 2015) – Léo Rugero


O ano de 2015 marca uma data importante para a música nordestina: o centenário de Gerson Argolo Filho, artisticamente conhecido como Gerson Filho. 
Nascido em 12 de maio de 1915, na Fazenda Mundéis, no Município de Penedo, no Estado de Alagoas, Gerson Filho foi o primeiro solista de oito baixos no estilo nordestino, a gravar profissionalmente em disco.
Em 9 de abril de 1953, com a gravação em disco de 78 rotações das músicas “Maracanã”e “Quadrilha da Cidade”, através da gravadora Todamérica, Gerson Filho inauguraria a era fonográfica da sanfona de oito baixos nordestina, abrindo caminho para outros solistas do instrumento, que despontariam em seguida, tais como Pedro Sertanejo, Severino Januário, Zé Calixto e Abdias.
Tão somente este pioneirismo  asseguraria um lugar central de Gerson Filho na história do fole de oito baixos na região Nordeste. No entanto, o sanfoneiro alagoano edificaria uma das carreiras mais sólidas na história do forró, se constituindo em um dos mais representativos solistas da sanfona de oito baixos da região Nordeste.  Também seria um destacado compositor, tendo obras gravadas por Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Fagner, entre outros nomes representativos da cultura musical nordestina. 
Indubitavelmente, Gerson Filho foi o primeiro solista de oito baixos a obter reconhecimento artístico além do restrito âmbito de atuação dos sanfoneiros nos bailes rurais e de periferias urbanas. Através do rádio e do disco,  se consagraria, tornando-se uma referência da sanfona de oito baixos no contexto midiático de apropriação e adaptação fonográfica desta tradição sonora.
A interessante biografia deste sanfoneiro merece ser resgatada, bem como sua vasta obra composicional, dispersa em dezenas de fonogramas registrados ao longo de cinco décadas de carreira profissional.
A história musical de Gerson Filho principia em sua infância, e, desde o primeiro momento, foi marcada pelo amor à primeira vista por aquele que seria seu instrumento de fé e trabalho: a sanfona de oito baixos.
Ao completar dez anos, Gerson Filho foi enviado pela família aos cuidados de uma tia, para que completasse seus estudos na escola pública. Por volta desta época, teria ocorrido seu primeiro contato com o fole de oito baixos. Certo dia, viu passar perto da escola onde estudava, o sanfoneiro Zé Moreno, que teria causado impacto ao menino.
Algum tempo depois, Gerson Filho pediria a Zé Moreno para tomar parte de seu conjunto. Já haviam dois ritmistas ao encargo do pandeiro e do gonguê, e Gerson ficaria responsável pelo ganzá. Durante o convívio com Zé Moreno, Gerson Filho aprenderia aos poucos a manejar o complexo instrumento, aproveitando os intervalos dos bailes e funções nas quais participavam, para descobrir os segredos entre o fole e os botões. 
Certa noite de São João, Zé Moreno havia sido contratado para fazer dois bailes no mesmo dia e horário. Então, solicitou ao jovem aprendiz que assumisse o posto de sanfoneiro em um dos bailes. Com a aceitação pública do jovem talento, dava-se o início de uma longa carreira.
No entanto, ainda que tenha adquirido notoriedade como sanfoneiro entre as comunidades que circundavam o município de Penedo, a música constituía apenas uma das atividades profissionais do jovem, que também trabalhou como feirante e até mesmo proprietário de um cabaré com o insólito nome de “Orgia Lua Branca”.
Em busca de novos horizontes, Gerson Filho se deslocaria ao Rio de Janeiro em 1948, numa longa viagem carregada de percalços. É difícil imaginar como deve ter sido a receptividade ao trabalho do jovem sanfoneiro na Guanabara. Devemos lembrar que nesta época, ocorria a definitiva consagração de Luiz Gonzaga no Rio de Janeiro e, consequentemente, em todo o pais. Porém, o fole de oito baixos era um instrumento praticamente desconhecido no Rio de Janeiro, circunscrito às práticas de músicas tradicionais como o calango e a folia de reis, concentrados nas periferias da região metropolitana. Alem disso, Gerson Filho era adepto da afinação natural, que restringe o instrumento à pratica de melodias diatônicas, minimizando enormemente suas chances de inserção no rádio como acompanhador de cantores ou à frente de regionais de choro.  
Em 1949, participaria do programa  “Caminho da Glória”, e logo depois seria admitido no programa "A Hora Sertaneja”, apresentado pelo radialista Zé do Norte.
No entanto, seria apenas algum tempo mais tarde, que a sorte brindaria a carreira do sanfoneiro, quando encontra casualmente num ponto de ônibus, a famosa dupla Venâncio e Corumbá, que trabalhava profissionalmente com o agenciamento de artistas nordestinos. Acompanhando a dupla, Gerson se apresentaria em circos e clubes, iniciando o processo de consolidação de sua carreira artística.
Em 1953, surge o primeiro contrato fonográfico com a Todamérica, onde começa a produzir discos de 78 rotações. Entre as primeiras músicas gravadas por Gerson, estava uma quadrilha, gênero musical que identificaria muito seu trabalho, devido ao êxito de suas criações e adaptações de temas tradicionais inspirados no gênero. Além disso, gravaria baiões, xaxados, calangos, xotes, valsas e mazurcas, predominantemente instrumentais e destacando pela primeira vez em disco a sonoridade  da harmônica de oito baixos, instrumento matricial no percurso histórico do acordeon na região Nordeste.
  Em 1957, pela mesma etiqueta, gravaria o disco “8 baixos”, primeiro disco em 33 rotações e 10 polegadas de um solista de fole de oito baixos. O disco continha algumas das faixas  anteriormente lançadas em 78 rotações agrupadas em um único disco, novidade mercadológica da época.



No ano seguinte, pelo efêmero selo VASP, lançaria o primeiro long-play, legitimando seu caminho de pioneirismo. No entanto, sua carreira decolaria definitivamente, através do contrato com a RCA, importante gravadora que divulgaria seu trabalho para todo o Brasil, tendo sido talvez o único solista de oito baixos que tenha sido reconhecido além do âmbito do público de forró, devido a receptividade de suas gravações entre o público do Sudeste. Possivelmente, uma das principais razões para isso, era a fidelidade de Gerson Filho à afinação natural, associada aos repertórios advindos de tradições musicais distintas, como a gaúcha e mineira. O uso deste sistema de afinação ampliaria a expansão de seu repertório entre os praticantes deste instrumento oriundos de outras regiões do Brasil. Isso se refletiria em discos como "O Rei dos 8 baixos", em que o repertório flertava com músicas do repertório gaúcho e paulista, como a rancheira "Mate amargo".
Em 1964, quando trabalhava na Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro, Gerson Filho conheceu a jovem Clemilda, então garçonete de um restaurante próximo à rádio.  Do namoro surgiria uma união de 28 anos, na vida e na arte.
 

Em 1969, o casal mudaria para Aracaju, voltando à região Nordeste definitivamente. Através de um programa de rádio chamado Forró no Asfalto, Aracaju se tornaria o quartel general da dupla, que, no entanto, continuaria a produzir seus discos no Rio de Janeiro e em São Paulo, que concentravam majoritariamente os estúdios profissionais de gravação até o final da década de 1980. A partir de 1971, Gerson Filho assinaria contrato com a gravadora Continental, onde permaneceria até o final de sua carreira.
A fidelidade  à afinação natural, a alegria contagiante e corpórea de suas performances, o uso de melodias tocadas nos baixos (notas graves) da sanfona e a criação de melodias marcantes - muitas das quais inspiradas em motivos tradicionais de sua terra natal, são algumas das características que fizeram de Gerson Filho uma das principais referências do fole de oito baixos da região Nordeste.
O músico faleceu em 1994, deixando vasta fonografia e uma identidade peculiar. O sanfoneiro Robertinho dos Oito Baixos, filho do casal Gerson Filho e Clemilda, pode ser apontado como o natural sucessor artístico, tendo herdado a arte do fole com seu pai, embora não tenha firmado  carreira profissional de sanfoneiro.
Que esteja sempre viva a música saltitante e alegre de Gerson Argolo Filho, ou melhor, Gerson Filho, “o rei dos oito baixos”, levantando a poeira dos salões pelos forrós de todo o mundo afora.

2 de jun. de 2015

João Calixto

Governo de Feira silenciou os ‘oito baixos’ de Bié

Governo de Feira silenciou os ‘oito baixos’ de Bié

BIé
Aconteceu o que alertamos: o governo municipal de Feira de Santana conseguiu silenciar, pelo medo, a sanfona de oito baixos de Bié, no Centro de Abastecimento.
Hoje Bié não foi ao Centro.O som da sanfoninha não amaciou os ouvidos da gente simples.
‘Tive medo de tomarem minha sanfona, minhas caixas.Eles me ameaçaram’, me disse Bié, entristecido.
O Governo cumpriu a maldade anunciada.E o Centro de Abastecimento está menos alegre.